Uma Jornada Delicada
A jornada da medicina é uma viagem contínua através do vasto oceano do conhecimento, e a microcirurgia de nervo da mão é uma de suas rotas mais delicadas. Com uma frase que é tanto uma reflexão quanto uma realidade, Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, disse: “Aquilo que não me mata, torna-me mais forte”. Na prática cirúrgica, essa máxima pode ser interpretada no sentido de que cada desafio superado nos permite aprimorar nossa destreza e entender ainda mais profundamente o funcionamento complexo do corpo humano.
É preciso lembrar, no entanto, que somos conduzidos por uma responsabilidade gigantesca: nas mãos de um cirurgião, residem as esperanças e sonhos de um paciente, que anseia por uma vida sem dor, funcional e completa. Portanto, a importância da microcirurgia de nervo da mão é dupla: trata-se de um desafio para nós, profissionais de saúde, e uma jornada de recuperação para nossos pacientes.
Há uma dança silenciosa entre o conhecimento e a paixão, a técnica e a coragem, a precisão e a compaixão.
Os Desafios da Microcirurgia de Nervo da Mão
O primeiro desafio é a complexidade anatômica da mão. Com uma densa rede de nervos, músculos e vasos sanguíneos interligados, cada procedimento requer uma delicadeza e precisão extrema. Como bem pontuou René Descartes, “dividir cada uma das dificuldades que examinei, em tantas partes quantas fossem possíveis e necessárias para melhor resolvê-las”. Para nós, isso significa dividir o problema em suas partes constituintes, compreendendo cada elemento em sua totalidade antes de tentar corrigi-lo.
O segundo desafio reside na necessidade de reabilitação pós-operatória. Uma vez que a cirurgia esteja concluída, a viagem do paciente está apenas começando. Nesse ponto, precisamos nos voltar para a sabedoria de Aristóteles, que nos ensinou que “somos o que repetidamente fazemos”. O ser humano tem esse capricho absurdo de sobreviver e resistir. Está no nosso código genético, temos a capacidade de nos adaptarmos magnificamente para passar as adversidades, nada mais evidente que a jornada do paciente na recuperação.
As mãos são instrumentos de interação com o mundo, expressão da nossa humanidade e meio pelo qual deixamos nossa marca no universo.
O retorno de função e sensibilidade através da microcirurgia de nervo da mão permite aos pacientes recuperar a habilidade de tocar, sentir e interagir, proporcionando não apenas a cura física, mas também a emocional. Como Epicuro nos lembra, “não devemos apenas procurar a ausência de dor, mas também a presença de prazer”. E que maior prazer existe do que recuperar a capacidade de vivenciar o mundo através do toque?
Digo aos meus residentes, ao embarcarem nesta jornada, sejam resilientes, sejam compassivos, sejam curiosos. Continuem a aprender, a crescer, e acima de tudo, a maravilhar-se com a incrível viagem que é a medicina. Porque, no fim do dia, vocês não estão apenas operando mãos; estão tocando vidas.
Alfonso